Degradação & Esperança

(Origem e consequência dos movimentos populares que abalam o País.)

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.” – Rui Barbosa, Discurso no Senado em 17/12/1914

Em artigos, palestras e consultorias venho indicando, há muito tempo, uma grande preocupação com o que tenho chamado de “degradação geral” dos costumes e sistemas que regem a vida brasileira. Degradação moral, política, administrativa, pública e privada.

Os protestos das últimas semanas indicam que parte da população já começa a entender e, por conseguinte, a repudiar essas práticas. Mas vejam que, lamentavelmente, até o ato democrático de protestar acaba se degenerando, com a atuação de irresponsáveis que partem para a insensatez do quebra-quebra generalizado.

Hoje os alvos sob mira são os políticos. E não é pra menos: o mensalão (ainda sem punição real à vista) está aí, a desafiar nossa paciência, dando crias por todos os lados, num volume de corrupção jamais visto. Por um lado, vê-se o assalto descarado aos cofres públicos. Por outro, a incompetência administrativa que acaba usando mal os caraminguás que sobram.

Nós, a sétima maior economia do mundo, somos campeões de má aplicação de recursos, o que resulta termos índices vergonhosos na avaliação dos serviços básicos prestados à população. Educação, saúde transporte, moradia, segurança … tudo está tão abaixo do mínimo aceitável que o nosso IDH (Índice de Desenvolvimento Humano, medido pela ONU) é apenas o 85º no mundo. Vergonha! Só aqui, na pobre América do Sul, perdemos para Chile, Argentina, Uruguai, Venezuela e Peru.

Nossa infraestrutura – estradas, energia, água/esgoto, portos, aeroportos, etc – está sucateada. Não só não vem sendo melhorada, como foi se deteriorando com o passar do tempo. Mas o que não para de crescer são os níveis de corrupção.

Dois anos atrás, impressionado com a quantidade de casos revelados intermitentemente País afora, criei no meu blog uma seção denominada “O escândalo do Dia”. Durante cem dias reproduzi diariamente um episódio apontado pela mídia. E a sequência não falhou um só dia. Pelo contrário, em muitos momentos tive que escolher o mais grave escândalo entre todos os que ocorriam naquele momento – havia um verdadeiro estoque de ações indecorosas (o “Jornal de Itatiba” noticiou a iniciativa em 20/08/2011).

Parei após catalogar mais de uma centena de casos, pois lidar com aquele volume de insalubridade moral estava fazendo mal para a minha saúde mental.

É desanimador! E agora, haja protesto! Para dar uma satisfação ao que chamou de “clamor das ruas” o governo federal propôs a realização de uma reforma política, para ser avalizada por um referendo popular. Palavras bonitas, intenções melífluas: uma simples cortina de fumaça adocicada para esconder a grande incompetência de uma administração que não consegue dar uma resposta real e palpável para as verdadeiras necessidades da população. Toda a imensa riqueza que produzimos se esvai em populismos medíocres, obras superfaturadas, políticas que privilegiam apenas uns poucos grupos políticos.

Tenho me sentido personagem da frase pinçada do discurso de Rui Barbosa que prefacia este texto. Mas o grande tribuno também recomenda, em sua vasta obra, que a luta continue, pois “a esperança é o mais tenaz dos sentimentos humanos”.

Quem sabe esses movimentos de protesto (vândalos à parte) podem virar o embrião de um processo de recuperação moral, política, administrativa, público e privada desse nosso Brasil sofrido, mas muito querido.

CHICO SANTA RITA Jornalista, é consultor em marketing político, com mais de 150 trabalhos realizados; dirigiu as campanhas vitoriosas do Presidencialismo no Plebiscito sobre a forma de governo e do “Não” no Referendo sobre a venda de armas.

Artigo publicado originalmente no Jornal de Itatiba  28 de julho de 2013. 

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